A visita do papa ao Brasil, no início de maio, teve um episódio inusitado que foi superado pela discrição e criatividade do governo brasileiro. Quando a comitiva chegou a São Paulo, proveniente de Roma verificou-se que dois membros viajaram simplesmente sem passaporte: nada menos que seus principais integrantes, o próprio papa e o secretário de Estado da Santa Sé. Diplomatas brasileiros estranharam que o Vaticano tenha cometido falha tão primária de logística e lembram que qualquer chefe de Estado recebe todas as regalias, como, por exemplo, a dispensa de visto, mas não é liberado para entrar em qualquer país sem uma identificação oficial. O caso do secretário de Estado seria mais inexplicável ainda, pois ele é um funcionário de um governo estrangeiro como qualquer outro, e em nenhuma hipótese estaria liberado de apresentar seu passaporte diplomático. O problema chegou ao Palácio do Planalto, e a solução foi deixá-los entrar em solo brasileiro e multar a empresa aérea ALITALIA. Oficialmente, a ALITALIA foi multada pela Polícia Federal por ter trazido dois clandestinos a bordo: um alemão, Joseph Ratzinger, e outro italiano, Tarcisio Bertone. E a Nunciatura Apostólica ainda protestou formalmente junto ao Itamaraty pela multa.
Merval Pereira – O SUL